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LUTA DAS MULHERES EM PLENO SÉCULO 21 CONTRA O PRECONCEITO NO FUTEBOL‏

Na história do futebol feminino no Brasil existem várias personagens que desde o começo do século passado começaram a demonstrar suas habilidades nos gramados. Temos relatos de jogos da atuação feminina desde 1921, quando mulheres tremembenses enfrentaram catarinenses numa apresentação festiva durante as festividades de São João. O futebol feminino até a década de 50 passou por algumas tentativas isoladas de consolidação, sendo exibido em circos, como atrações de curiosidades, jogado em campos de várzeas, sem representar grande ameaça ao nosso país que até então, não aceitava bem essa invasão feminina em assunto tão masculino.

Abaixo, as Pioneiras do Futebol Feminino, do Araguari Atlético Clube em 1959, acima
o primeiro reencontro, em 2009, após 50 anos.
Foto: Arquivo Pessoal de Teresa Cristina Cunha

Foi em 1958 que surgiu, numa pequena cidade do interior de Minas Gerais, chamada Araguari, um clube que acreditou que era possível as mulheres jogarem bola. Foi no Araguari Atlético Clube. Eram meados de outubro de 1958 quando um dos diretores do Araguari Atlético Clube, Ney Montes foi procurado por Isolina França Soares para fazer um jogo beneficente com o time masculino da época. Ney informou que o jogo não daria renda. Montes sugeriu então um futebol diferente com time formado por moças estudantes das escolas ginasial e secundarista. Isolina concordou com a ideia inovadora e começou a divulgar nas escolas que haveria uma espécie de “peneira” para formar dois times de futebol feminino do Araguari Atlético Clube. Ney também era radialista, como trabalhava nas rádios Cacique e Rádio Araguari, como radialista e comentarista esportivo, fez a divulgação pelas rádios também. Na data marcada compareceram mais de 40 moças. A escolha foi feita pelo olhar atento do técnico do futebol profissional do Araguari, Luiz Benjamim de Oliveira, juntamente com apoio do treinador Luiz Teixeira e o massagista José Firmino, com a aprovação de toda a diretoria do clube. As moças começaram os treinos, com autorização dos pais e responsáveis, pois tinham entre 14 a 21 anos. E com a mesma dedicação da equipe masculina, foram orientadas quanto a todas as normas e técnicas próprias do futebol de campo da época.

A grande maioria da cidade recebeu de braços abertos a novidade e o antigo Estádio Vasconcelos Montes ficou lotado na primeira apresentação das Pioneiras do Futebol Feminino, em 19 de dezembro de 1959. As Pioneiras jogaram por aproximadamente 10 meses, até que no último convite feito, para jogarem no exterior, no México, a Confederação Nacional dos Desportos (CND), acionou uma antiga lei datada de 1940 onde proibia o futebol para moças.

Vindo para o século 21, procuramos fazer um bate-papo com algumas mulheres que estão ligadas ao futebol feminino.

Convidamos uma ex-jogadora profissional e atual coordenadora geral de futebol feminino no Ministérios dos Esportes, Marileia dos Santos, conhecida também como Michael Jackson, convidamos também Luana Paula Silva, que é que é Professora de Educação Física e Atua Profissionalmente: Clube de Regatas Vasco da Gama Santos (SP) e professora da Escola das Sereias da Vila, em 2008. Também participa Juscelina Maria Batista Domingues que é profissional de Educação Física e Professora e treinadora de futsal e futebol, pela Futel (Fundação Uberlandense de Esporte Turismo e Lazer e pela Escola de Futsal Neto em Uberlândia (MG) e também Thalita Mendonça, que há oito anos e meio participa no clube amador de futebol feminino Seven em Uberlândia (MG).

O Blog fez algumas perguntas para nortear esse primeiro “bate-bola” sobre o assunto, como por exemplo, se sofreram preconceito na sua vida esportiva, como é a visão delas no incentivo do futebol feminino no Brasil e as perspectivas de cada uma sobre o assunto.




“Existem poucas escolinhas para o futebol feminino e a grande maioria ainda vê o futebol sendo apenas para homens.” Michael Jackson dos Santos, ex-jogadora profissional.


Depoimento de Michael Jackson (Marileia dos Santos)
Para Michael Jackson (Marileia dos Santos) coordenadora Geral de Futebol Profissional do Ministério dos Esportes, na sua vida esportiva a ex-jogadora também enfrentou preconceito. De acordo com Michael que fez parte da Seleção Brasileira de Futebol Feminino por 12 anos, tendo participado de duas Copas do Mundo e uma Olimpíada e Integrou a primeira Seleção Brasileira feminina a disputar a Copa do Mundo de 1991, ainda há preconceito no Brasil para as meninas que querem aprender e aprimorar a prática do futebol. “Existem poucas escolinhas para o futebol feminino e a grande maioria ainda vê o futebol sendo apenas para homens.” Afirma a ex-atleta. Marileia lembra que existem projetos do Governo Federal para incentivar o futebol feminino no Brasil, como o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, a Copa Brasil Escolar de Futebol Feminino Sub-17, Copa Brasil Universitária de Futebol Feminino, Copa Libertadores da América de Futebol Feminino (Organizada pela Conmebol com apoio do Ministério do Esporte) e o Primeiro Centro de Excelência de Futebol Feminino em Foz do Iguaçu (projeto aprovado Lei de Incentivo ao Esporte).



“Ainda prevalece a chamada Cultura Machista, onde consideram que mulher e futebol não combinam.” Luana Paula Silva, preparadora e professora de futebol feminino.

Depoimento de Luana Paula Silva
Luana Paula Silva, que é Professora de Educação Física e Atua Profissionalmente no Clube de Regatas Vasco da Gama Santos (SP), relata que também sofreu preconceito no início da sua vida esportiva, tanto por parte da família como também da escola e por isso evitava falar que jogava bola. Luana comenta que já atuou como professora em algumas escolas públicas e particulares, e percebeu que as meninas que jogam futebol são adoradas por muitos alunos, e as famílias também apoiam a carreira esportiva. Isso demonstra que a aceitação do esporte para mulheres está evoluindo. Mas quando se fala em Brasil, a professora relata que ainda há muito preconceito, mesmo sendo um país do futebol, as mulheres ainda não são valorizadas no esporte. “As meninas da Seleção Brasileira já mostraram por várias vezes seu potencial, mas há pouco incentivo para a modalidade. A estrutura dos clubes é precária, e o salário também é baixo. Ainda prevalece a chamada “cultura machista”, onde consideram que mulher e futebol não combinam”, comenta a professora. Atualmente existem mais mulheres praticando futebol, mas quando se fala do futebol feminino profissional, ainda não houve grande evolução. Faltam clubes que invistam na modalidade, diz Silva.
Quando se trata do envolvimento do Governo, Luana Paula afirma que o Ministério do Esporte está estruturando o futebol feminino no Brasil. O primeiro passo foi tomado em 2011, quando empossou como coordenadora de Futebol Feminino a ex-jogadora da Seleção Brasileira Michael Jackson. Em fevereiro de 2012 foi criado um grupo de trabalho para discutir soluções e buscar melhorias para o futebol feminino. Com isso foi possível a realização de duas Copas Libertadores da América de Futebol Feminino no Brasil, sendo uma em 2012, em Pernambuco e a outra, em Foz do Iguaçu (PR). Outra grande conquista para a modalidade no país segundo a preparadora física, foi a realização, desde setembro de 2013, do Campeonato Brasileiro, que teve sua última edição em 2001, ”O torneio conta com o patrocínio da Caixa Econômica Federal e o apoio do Ministério do Esporte que também fortalece a formação de base da categoria e investe na realização de campeonatos escolares sub-17”, comenta a educadora física.
Luana Paula foi profissional da equipe feminina do Santos Futebol Clube, como professora da Escola das Sereias da Vila, em 2008 “Tivemos resultados muito positivos, em termos de comportamento, desenvolvimento de habilidades motoras, entre outros aspectos. O esporte é uma excelente ferramenta, para revelar mais que uma atleta como também uma excelente cidadã! Acho que o governo deveria apoiar o futebol feminino nas escolas públicas e criar uma lei que incentivasse a modalidade assim como é feito nos Estados Unidos.”, conclui Luana.


“Acho que o preconceito é grande, pois o Brasil é um país machista ainda. As coisas vêm mudando para o futebol feminino muito lentas aquém do que esperávamos na era da informática”. Juscelina Maria Batista, preparadora física e técnica de futebol feminino.

Depoimento de Juscelina Maria Batista
Juscelina Maria Batista Domingues, profissional de Educação Física. Professora e treinadora de futsal e futebol pela Futel e Escola de Futsal Neto em Uberlândia (MG), também passou por preconceito “Já tive que ouvir várias coisas, mas graças a Deus sempre tive uma cabeça muito boa pra esse tipo de situação e sempre tentei ao máximo minimizar para não respingar nas atletas”. Diz a professora. “Acho que o preconceito é grande, pois o Brasil é um país machista ainda, as coisas vêm mudando para o futebol feminino muito lentamente, aquém do que esperávamos na era da informática”. Para Juscelina, quando se fala em preconceito, a treinadora acha que é uma questão de educação, pois a mudança tem que vir de berço.
Sobre o incentivo à modalidade, a educadora física diz que o governo certamente dá algum incentivo, porém, ainda está longe do necessário, apoiando a Copa do Brasil, que hoje é o torneio mais importante feminino e também tem o apoio da Caixa Econômica Federal. Juscelina se lembra da grande perda para a divulgação do futebol feminino no Brasil, com a morte de Luciano do Valle locutor da Tv Band “O futebol feminino perde um grande apoiador que tentava dar visibilidade a modalidade.” O grande desafio segundo a preparadora física é a luta não só por um espaço com relação ao governo, mas também junto a grandes empresas para atuarem com seus patrocínios.


“As maiores dificuldades são a falta de apoio por parte da cidade e também do empresariado”. Thalita Mendonça, praticante e integrante de um clube amador de futebol feminino.


Depoimento de Thalita Mendonça

Para Thalita Mendonça que há oito anos e meio participa no clube amador de futebol feminino Seven em Uberlândia (MG). O preconceito existe, seja por meio da família ou de terceiros. As maiores dificuldades são a falta de apoio por parte da cidade e também do empresariado. “Aprendi a jogar na rua mesmo, no meio dos moleques. Aos oito anos e meio ingressei para o Clube de Futebol Feminino Seven e estou até hoje. É uma equipe maravilhosa e tem um técnica muito competente e inteligente”, comenta Thalita. A jogadora não pensa em jogar profissionalmente, apesar de ter recebido algumas propostas, preferiu ficar em sua cidade, Uberlândia, com a família. “Estou no quinto período do curso de engenharia civil e apesar de ter uma paixão enorme por bola levo hoje apenas como um hobby”, conclui a esportista.

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